Entrevista: Eduardo Patto Kanegae – WebMapIt

Entrevista - GeotecnologiasConfira agora a nona entrevista da série onde estamos conversando com profissionais da área de Geoprocessamento que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Eles estão relatando um pouco sobre sua história no mercado de trabalho, comentando sua visão sobre o cenário do Geotecnologias onde vivem, e algo mais. Nosso entrevistado do momento é Eduardo Patto Kanegae, personalidade conhecida do mundo da Geoinformação, em especial na área de disponibilização de dados geográficos na internet.

Eduardo Patto KanegaeEduardo Patto Kanegae é Tecnólogo em Processamento de Dados, formado pela Faculdade de Tecnologia de Taquaritinga (1999). Possui especialização em Geoprocessamento pela Universidade Federal de São Carlos (2003) e atua desde 1999 com projeto, desenvolvimento, implantação, documentação, treinamento, integração e suporte de sistemas de informação. É também mantenedor do site WebMapIt e promete uma nova versão deste para o próximo mês. Atualmente, é analista de sistemas sênior na EMDEC e nas horas vagas, divide seu tempo com outras paixões além dos mapas: família, bons filmes, música e cozinhar.

1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área tão empolgante?

Meu primeiro contato com SIG foi em 2000 acompanhando a inserção do ArcView 3.x e MapObjects em uma empresa de celulose e papel. Como tudo era novidade e haviam poucas referências a seguir, as aplicações eram tímidas e realizar tarefas simples (hoje) como conversão de sistemas de coordenadas eram motivo de alegria para cada sucesso alcançado.

2. Você fez algum curso na área de Geoprocessamento? (Pode também citar onde, e se possível algumas características do curso)

Geoprocessamento e ComputaçãoSou Tecnólogo em Processamento de Dados e por influência das atividades de controle no setor florestal, em 2002 fiz pós-graduação (lato sensu) em Geoprocessamento na UFScar (Universidade Federal de São Carlos).

Este curso é oferecido pelo Núcleo de Geoprocessamento da UFSCar sob a coordenação do professor Dr. Sergio Antonio Röhm e atualmente são cursos em duas áreas: Infraestrutura urbana e Geoprocessamento ambiental.

3. Qual sua visão sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais?

Acho que estamos vivendo uma certa “bolha” geotecnológica no Brasil – onde se fala muito de novidades e inovações, mas na prática a conversa é outra. O aprisionamento a velhas formas e modelos e o medo do novo atrapalham muito a aplicação de toda esta inovação que luta por espaço todos os dias em canais como o portal MundoGeo e blogs de geotecnologia.

Principalmente nas grandes empresas, existe ainda muito preconceito em relação a software livre/código-aberto e a pequenos prestadores de serviços como micro-empresas, consultores independentes ou profissionais autônomos. E preconceito é o sintoma mais claro da falta de informação.

Na América do Norte, nos últimos dois anos, vimos dois grandes exemplos que chocam a cultura econômica neo-conservadora brasileira: o primeiro foi ver a Google procurar o criador da GDAL, Frank Warmerdam, e integrá-lo a sua equipe de funcionários. E em 2012 vimos a NASA contratar os serviços de treinamento e assessoria de Jeff McKenna – consultor independente de open source GIS bastante conhecido nas comunidades internacionais.

4. O que você acha que seja fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho em Geoinformação?

Três coisas: trabalho duro, trabalho duro e trabalho duro! A qualificação (cursos, especialização) dá uma base essencial para a prática em serviços e projetos.

E enquanto a sua melhor colocação no mercado de trabalho não chega: estude, faça testes, protótipos, escreva, compartilhe e divulgue! Os blogs e redes sociais são recentes, mas o compartilhamento de experiências e conhecimento são tão antigos quanto a própria humanidade. Por fim: não ter medo do fracasso também é uma grande qualidade – os erros te ensinam muito, os acertos sem humildade, vão te fazer arrogante.

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5. Com quais softwares para Geoprocessamento você tem trabalhado, desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?

Desde o início, em 2000, me envolvi bastante com o MapServer como usuário e também como colaborador em iniciativas de documentação e divulgação.

GRASS, OpenJUMP e PostGIS também semprei usei muito para tarefas de processamento de dados. Já a GDAL/OGR e a PROJ4 são meu ‘canivete suíço' nas atividades de conversão de dados.

Hoje, o QGIS ajuda muito no dia-a-dia, sendo, em minha opinião, “A” alternativa opensource em ‘desktop SIG'. Com ArcGIS e ENVI trabalhei por pouco tempo – menos de dois anos.

6. Comente um pouco de como as Geotecnologias estão diretamente envolvidas os projetos e atividades que você tem desenvolvido atualmente.

Atualmente venho desenvolvendo alguns protótipos com SIG aplicado ao trânsito e transportes junto à Gerência de Tecnologia da Informação da EMDEC – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas – a qual responde pelas atividades de gerenciamento e controle de trânsito e transportes no município de Campinas.

Nos últimos dois meses, obtivemos ótimos resultados com a execução de um protótipo interno utilizando o OpenTripPlanner – uma solução open source para planejamento multimodal de viagens.

Não deixe de acessar os links abaixo:

7. O que você diria sobre as potencialidades do uso de softwares livres para Geoprocessamento frente ao tradicional uso de ferramentas proprietárias nas instituições privadas e públicas?

O uso de software open source/livre para mim nunca foi somente a questão custo, mas há um peso muito grande em você poder acompanhar o desenvolvimento do software, participar de decisões e na prática saber para onde o software vai ou de onde ele vem. Por exemplo: um desenvolvedor de aplicações MapServer trabalha com os mesmos princípios desde suas primeiras versões públicas. Já nas linhas de software proprietário, muitas vezes, com a atualização de versões é necessário reaprender conceitos e API's, além do novo investimento em licenças de atualização.

No Brasil, alguns profissionais estão saindo da faculdade já com alguma experiência em QGIS, por exemplo, e isto é ótimo: pois estes jovens profissionais vão colocar em cheque as opções tradicionais das grandes empresas. No meio público, a adoção de software open source já é tendência principalmente pela economia com licenças.

8. Você gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?

Parabéns pela iniciativa e pelos canais que você divulga e/ou mantém. De forma oposta ao mundo essencialmente comercial, nas comunidades open source, iniciativas como as entrevistas que você publica são uma ótima forma de aproximar usuários, desenvolvedores e colaboradores em geral.

___________________________________________________________

Queremos agradecer ao amigo Eduardo Patto Kanegae por nos conceder esta entrevista que certamente agregou grande valor ao conteúdo de nosso site, em especial nesta série de entrevistas.

O que vocês acharam desta postagem? Já conheciam o trabalho desenvolvido por este relevante profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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4 respostas

  1. É bom ler de pessoas que são referência que o Qgis é uma alternativa “A” ao Arcgis. Já desconfiava disso, há muito tempo. Mas creio que o GVSIG deveria ser lembrado também. creio que se na área formal não tenhamos uma atenção na formação de profissionais com sólido conhecimento de softwares livres em GIS, acredito que isso é por que em grande parte os professores também não os conhecem de fato. Mas se não funcionar na área formal a informal vai suprir, porque não há como comprar licenças com preços astronômicos e para cada detalhe diferente que você tenha no seu projeto, as empresas de software alegam ser necessário comprar um complemento, isso é uma cilada. Parabéns pela entrevista! Que venham outras!

  2. Ótima entrevista!

    Devemos valorizar o conhecimento de um profissional isoladamente, pois isso faz com que nasça muito mais soluções em equipes multidisciplinares. O Patto é um expoente na sua área e isso têm contribuído muito na nossa empresa – Emdec.

    Parabéns!!

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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