Como Desenvolver um GIS – Parte 2

Na primeira parte desta série sobre como desenvolver um SIG vimos quais são as etapas básicas deste processo e comentamos especificamente as fases de aquisição de manipulação dos dados (sugiro que leia esta matéria antes de considerar o exposto abaixo).

Já vimos, por exemplo, quais são algumas das características da etapa de coleta de dados e alguns dos métodos que podem ser usados para sua concretização. Já comentamos sobre os desafios inseridos na aquisição dos dados que formarão a futura base de dados e a importância da manipulação adequada destes.

Etapas de um SIG

Agora, vamos tecer alguns comentários sobre as etapas de Análises e Gerencia dos Produtos.

ANÁLISES EM AMBIENTE SIG

O que mais chama minha atenção em softwares de SIG é a capacidade de realização de análise espacial. Inclusive uma das principais características que diferenciam os SIG dos Sistemas de Informação convencionais é a capacidade de realizar análise espacial.

Dito de forma simples, análise espacial é a compreensão da distribuição dos dados originados de fenômenos ocorridos no espaço geográfico. As funções do softwares de SIG que tem este objetivo fazem uso dos atributos espaciais e não espaciais da base de dados, para gerar simulações sobre os fenômenos do mundo real. Assim, a análise espacial permite compreensão da distribuição dos dados advindos de fenômenos ocorridos em certa região geográfica, o que é de grande utilidade para a solução de importantes questões nas mais diversas áreas.

A realização dessas análises no contexto dos SIG é um verdadeiro desafio para que sejam solucionados importantes questões nas mais diversas áreas de aplicação. Na maioria dos casos, procura-se avaliar se há um “padrão espacial” ou seja, uma agregação das variáveis estudadas ou se há um padrão aleatório. Também é considerado se esta espacialização pode estar relacionado com fatores mensuráveis.

Exemplificando o que foi dito no parágrafo acima, vamos recapitular algumas situações ilustrativas, começando com um caso típico da literatura da área.

ANÁLISE ESPACIAL APLICADA NO ESTUDO DE EPIDEMIAS

Em Londres, Inglaterra, em 1854, o médico John Snow, de forma intuitiva realizou uma verdadeira análise espacial. Na época a cidade estava sofrendo com uma epidemia de cólera.

Ele indicou em um mapa da cidade a localização dos casos de óbito por cólera e os poços de água que abasteciam a cidade (uma das formas de transmissão da cólera é por meio da ingestão de água contaminada). A figura abaixo ilustra o resultado do trabalho do médico.

Distribuição dos casos de cólera em Londres (1854)

A partir da espacialização destas informações percebeu-se que a maiorias dos casos de morte registradas situavam-se em torno de determinado poço localizado na Broad Street, o qual foi interditado. Exames realizados posteriormente confirmaram a hipótese de Snow.

Esta metodologia aplicada em 1854 pode ser aplicada de forma semelhante hoje, obviamente com recursos tecnologicos bem mais avançados proporcionados pelos softwares de SIG.

Por exemplo, uma análise semelhante pode ser feita com respeito a estudos sobre focos de dengue e/ou outras doenças semelhantes. São questões relacionadas com esta análise: A localização dos focos da doença se concentram em bairros onde tem ocorrido pouco investimento em saneamento básico? As condições geográficas da área  com maior número de casos propriciam o surgimento deste tipo de enfermidade?

ANÁLISE ESPACIAL NO ESTUDO DE ÁREAS DE RISCO

Imagine agora uma análise em ambiente SIG voltado para determinação das chamadas áreas ou zonas de risco, ou seja, regiões consideradas mais propícias para tragédias como deslizamento de barreiras, alagamento, etc.

Lembre-se que as análises só podem ser realizadas se houver dados consistentes na base de dados, assim faz-se necessário que a etapa da aquisição dos dados seja realizada de forma adequada.

Alguns dos dados importantes para análise na situação descrita são: Topografia (informação de quais locais específicos estão mais sujeitos a precipitações pluviais e fluviais, por exemplo), vias fluviais (percurso dos rios da região), informações históricas (avaliar se já houve problemas por conta de fatores como estes), etc.

Os programas de SIG empregados utilizarão algorítimos específicos para realizar o cruzamento dos dados coletados gerando as informações procuradas, a saber, quais as áreas de maior risco.

Como sugestão de uma boa leitura sobre conceitos de análise espacial em Sistema de Informações Geográficas, eu indico o livro “Análise Espacial de Dados Geográficos“, disponível gratuitamente neste endereço.

Mas e como fica a questão da gerencia de produtos?

GERENCIA DE PRODUTOS EM SIG

Quais são os possíveis produtos de um Sistema de Informação Geográfica? Mapas?

Embora os mapas, temáticos ou de outro tipo, estejam entre os principais produtos, não são os únicos. Podemos citar entre os demais produtos os diversos relatórios técnicos e gráficos de variadas espécies. Estes podem ser apresentados, dependendo do caso, tanto em meio digital (CD, DVD, arquivos em formatos compatíveis para a transmissão de dados para outros sistemas) como analógico (impressos).

Não é necessário dizer que a qualidade de como estes são apresentados ao contratante é muito importante. Pode parecer brincadeira, mas já vi pessoas entregarem relatórios técnicos (se é que poderiamos chamar assim) contendo mapas sem conter componentes cartográficos básicos como legenda, grande de coordenadas, etc. Com certeza, erros graves que precisam ser evitados.

Outro aspecto importante neste sentido é a revisão dos produtos com respeito a sua consistência.

NO PRÓXIMO CAPITULO

Leia a terceira e última parte da série, onde consideramos sobre Geoprocessamento, SIG e tomada de decisão.

Por hora, vou ficando por aqui. Caso tenham dúvidas, perguntas, sugestões, elogios e até reclamações, deixem nos comentários. Fiquem no aguardo da sequência da série.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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4 respostas

  1. Muito Bom, é o que eu procurava!!! mas…
    Em caso de analise.. Como éla é feita na prática?
    Consultas SQL, porfafor poderia exemplificar?

  2. Muito bom. Seria muito interessante ter este livro pois ajudaria muito na montagem de nosso sig ambiental em Humaitá – Amazonas.

    abraços e sucesso!!!!

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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