Como Desenvolver um GIS – Parte 1

Na série de postagens intitulada “O Geoprocessamento e suas Tecnologias” comentei aspectos conceituais ligados a Geotecnologias tais como o Sistema de Informações Geográficas (SIG). Mas tenho percebido que ainda pairam muitas dúvidas na mente de alguns no que diz respeito ao processo de desenvolvimento de um SIG.

Neste breve artigo vou procurar explicar um pouco sobre as etapas de desenvolvimento de uma aplicação SIG, ou seja, como desenvolver um GIS (Geographic Information System).

Para uma melhor compreensão do que será exposto a seguir, leve em consideração que:

  • O uso  dos termos SIG e GIS neste artigo NÃO se refere a algum software tais como ArcGIS, gvSIG, Kosmo, MapInfo, Envi, etc, mas sim ao sistema de informações como um todo (Para maiores detalhes sobre componentes de um SIG veja a série de artigos mencionados acima e para saber como escolher um software de SIG, clique aqui).
  • Não estou passando aqui algum tipo de “receita de bolo” sobre como desenvolver toda e qualquer aplicação SIG, pois cada situação exige uma metodologia específica, a qual será determinada por se considerar inúmeros fatores.

Com isso em mente, vamos começar nosso estudo básico sobre como desenvolver um SIG.

DESENVOLVENDO UM SIG

Em certo sentido, podemos dizer que a construção de uma aplicação SIG constitui um ciclo (veja a figura abaixo) onde nos pontos inicial e final está o nosso “Mundo Real”.

Afinal o que  motiva a construção de um Sistema de Informações Geográficas é a observação de uma necessidade (de decisão, estudo, etc) relacionada a aspectos de nossa realidade, visando a  implementação de soluções que visem otimizar o planejamento e demais atividades ligadas a este “Mundo Real”.

Neste contexto, consideremos o que chamaremos aqui de cinco etapas intermediárias entre desenvolvimento e a implementação de um SIG:

  1. Aquisição de Dados;
  2. Manipulação dos Dados;
  3. Análise das Informações;
  4. Gerencia de Produtos e
  5. Tomada de Decisão

Como Desenvolver um SIG

É importante destacar que estas cinco etapas só se iniciam após se ter definido quais os objetivos do SIG a ser desenvolvido.

Este é o primeiro de uma série de três postagens sobre as etapas de desenvolvimento de um GIS, neste momento vamos considerar até a etapa de manipulação dos dados. Na segunda parte, veremos sobre a análise das informações e gerencia de produtos e por fim, na conclusão da série o tópico “tomada de decisão” será abordado. Entenda que não será considerado, nesta série, os conceitos referentes ao processo de modelagem de dados para um SIG, isso ficará para matérias futuras.

AQUISIÇÃO DOS DADOS

Em geral, esta é a etapa de maior custo na implementação de um SIG, pois muitas vezes envolve aluguel ou compra de aparelhos para coleta de dados, os quais não costumam ter o que se considera um preço acessível, em especial para órgãos públicos. Além disso dependendo dos tipos de dados a ser coletados pode ser necessário o uso de aeronaves (em casos onde se utilizarão técnicas de fotogrametria aérea, por exemplo).

Some-se aos custos envolvidos na coleta de dados o deslocamento de uma equipe capacitada, as diárias para os membros da mesma, etc.

Como um colega meu costuma dizer, a etapa de coleta dos dados também é a “mais emocionante”. Pois em certas ocasiões pode significar para os responsáveis por esta componente do processo se enveredar em regiões isoladas e em condições altamente insalubres.

Quando falo em coleta de dados não me refiro apenas à aquisição de dados geográficos, mas também ao que pode envolver uma verdadeira pesquisa livros documentais, dados alfanuméricos em meio analógico, etc. É digno de nota que para se adquirir certos dados em escritório se utilizam métodos tais como a digitalização de cartas e mapas em meio analógico.

Há diversas técnicas para coleta de dados espaciais para uso integrado em SIG. Podemos citar entre eles: topografia, geodésia, posicionamento pelo Global Navigation Satellite System (GNSS) e aerofotogrametria.

Após coletados, estes dados precisam ser processados, manipulados. Isso nos leva a próxima etapa do ciclo de desenvolvimento de um SIG.

MANIPULAÇÃO DOS DADOS

O que chamamos aqui de manipulação dos dados envolve a edição, tramento e integração dos dados coletados na etapa anterior. Também, em geral, é nesta nova etapa que ocorrerá o estabelecimento de um Sistema de Coordenadas para registrar e especificar as localizações dos objetos dentro de uma base de dados.

Destacando aqui o que ocorre com os dados já em meio digital, lembre-se de que estes foram obtidos das mais diversas fontes e em variados formatos, isso resultará muitas vezes na necessidade de conversão dos mesmos para novos formatos. Como grande parte dos softwares de SIG, principalmente os livres, procuram aderir aos padrões da OGC, hoje se consegue reduzir os problemas ligados a conversão devido a grande interoperabilidade existente.

Nesta etapa, dados coletados também são integrados para que nas etapas posteriores se possa obter informações ainda mais específicas. Um exemplo disso é casos onde dados antes existentes apenas em meio tabular, na forma de planilhas, são combinados com arquivos de dados geográficos que farão parte da base do SIG.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

Sei que ainda podem surgir dúvidas na mente de alguns em torno destas duas etapas do processo, por isso peço que deixem suas opiniões e dúvidas na forma de comentários nesta postagem.

Como falado no início, o objetivo aqui não é estabelecer um guia definitivo sobre metodologia de desenvolvimento de um Sistema de Informações Geográficas, mas dar uma visão geral dos procedimentos envolvidos neste processo, em especial para aqueles que estão começando a estudar a importância do uso do Geoprocessamento e suas tecnologias.

Espero que tenham gostado. Na segunda parte da série: Análise das informações e gerencia dos produtos.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

Artigos relacionados

21 respostas

  1. anderson, coloca as datas das tuas postagens para a gente fazer referência 😉

  2. Anderson, legal este método das cinco etapas, você teria algum artigo ou trabalho acadêmica pra me recomendar que tivesse um método para elaboração de um SIG?Estou fazendo um trabalho da faculdade que envolve SIG e Infraestrutura Logística do Rio Grande do Sul, e queria achar um modelo na teoria, aguardo, abraço!

  3. Estou pensando em desenvolver um software SIG… e pesquisando na web algumas coisas sobre o assunto encontrei a sua forma de desenvolver, e logo nessa parte 1 eu vi que os custos podem ser muito alto, eu queria saber se eu posso ter esses dados sem precisar coleta-los todos eu mesmo, por exemplo ter alguns dos dados prontos na web ou em algum software.

  4. Oi Anderson !,

    Os meus parabens… este site é fantástico e todos aprendemos muito.

    Um abraco desde Mocambique,

    Iván

  5. porque que em SIG todas as entidades de um mapa devem estar relacionados a um mesmo sistema de coordenadas? para quê isso é importante?

  6. porquê que em SIG, os dados alfanumericos e gráficos são armazenadas em bases separadas???????
    i’ll be waiting an answer.

  7. Poderíamos dizer que, em manipulação de dados, as consultas espaciais estariam envolvidas? Pergunto isso, pois quando pensamos em análise, pensamos em trabalhar os dados geográficos de forma que obtenhamos informações adicionais. Ao fazer uma simples consulta SQL ou espacial, estamos apenas explorando (“manipulando”) nossa base de dados.
    Seria por aí?!

    1. Olá Marcos,
      No meu ponto de vista sua observação está correta sim. Uma consulta “simples” é uma forma de manipular os dados. Claro que não devemos esquecer que há consultas espaciais que já visam a geração de análise geográfica.
      Abraço!

  8. Pingback: GeoLISTA: Saiba onde encontrar dados Geoespaciais | Metrica
  9. Gostei!! Veja se eu entendi!!
    Para um mapa de licenciamento de uma propriedade rural!
    para a obtençao de dados!
    eu consigo obter todos os dados geograficos com um GPS geodésico!
    como suas delimitaçoes e objetos dentro da propriedade, APP, ARL, enfim varios!
    Após obter esses dados é só manipular no arcgis por exemplo?

    1. Oi Marcos, tudo bem?
      Fico feliz de você ter gostado desta matéria que escrevi.
      Sobre sua dúvida: Realmente um GPS Geodésico deve suprir a maioria dos dados de sua aplicação, mas também teria de obter os dados utilizados para ajuste. Então você poderá processar e manipular os dados.
      Qualquer dúvida, entre em contato!
      Um Abraço!

  10. Gostei dessa primeira parte! No aguardo da continuação! Abraço!

  11. Achei bem didática sua explicação.
    Parabéns!
    Fico no aguardo da sequência da série.

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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