Entrevista: Luiz Motta – IBAMA

Entrevista: Luiz Motta – IBAMA

Leia agora a vigésima sexta entrevista da série onde estamos conversando com profissionais da área de Geoprocessamento que atuam em diferentes regiões do Brasil e do mundo! Eles estão relatando um pouco sobre sua própria história no mercado, comentando sua visão sobre o cenário das Geotecnologias onde vivem, e algo mais. O entrevistado da vez é Luiz Motta, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e personalidade amplamente conhecida pelo seu trabalho no desenvolvimento do QGIS e seus plugins.

Entrevista com Luiz Motta (IBAMA)Luiz Motta é Engenheiro e Mestre em Floresta pela Universidade Federal de Viçosa – UFV, é da carreira de Analista Ambiental do IBAMA, e atua em projetos de Geoprocessamento do Governo Federal, como o CAR e o SIGEF. É entusiasta do software livre, implementando tecnologias livres no Governo, ministrando palestras e cursos na área e colaborador  de código no projeto QGIS (C++ e Python)

1. Há quanto tempo você trabalha com Geotecnologias e como foi seu primeiro contato com esta área tão empolgante?

Meu primeiro contato foi no final da graduação em Engenharia Florestal em 1991, depois utilizei SIG no meu mestrado na área de otimização de transporte florestal, finalizando em 1995. Após o mestrado, trabalhei em vários projetos de Geoprocessamento em iniciativa privada e em órgãos públicos.

2. Você fez algum curso na área de Geoprocessamento? (Pode também citar onde, e se possível algumas características do curso)

O Geoprocessamento é uma área com vários segmentos, e sobre cursos, fiz algumas disciplinas na graduação, como Sensoriamento Remoto, Topografia e Fotogrametria Aérea. Depois alguns  minicursos de softwares e banco de dados espaciais.

Não tive um curso formal de Geoprocessamento, como os que tem hoje, apreendi de forma autodidata durante a Graduação e o Mestrado.

3. Qual sua visão sobre o cenário atual das Geotecnologias no Brasil? Considera que há boas perspectivas para os profissionais?

O cenário de Geotecnologias no Brasil e no mundo, é sua inserção em um ambiente de informação, que cada vez mais converge para trabalharmos em ambiente servidor, onde os dados obtidos ou processados com tecnologias de Geoprocessamento possam ser utilizados para os mais variados públicos.

Perspectiva profissional existe, a área de informação é cada vez mais necessária em empresas, e a informação geográfica e/ou espacial está cada vez mais presente, oferecendo oportunidade aos profissionais em Geotecnologias.

4. O que você acha que seja fundamental para que um profissional consiga um bom espaço no mercado de trabalho em Geoinformação?

Alguns princípios são válidos para qualquer área, como, gostar da área que atua, acreditar no seu potencial, buscar as novidades, identificar suas limitações, e no caso de Geoprocessamento, é fundamental saber lidar com diversos pontos de vistas, pois é uma área multidisciplinar.

5. Com quais softwares para Geoprocessamento você já trabalhou desde o início de sua carreira até hoje (comerciais e livres)?

Na graduação e no mestrado trabalhei com o IDRISI (Universidade de Clark). No IEF de Minas Gerais e na Embrapa de Milho e Sorgo trabalhei com SITIM-SGI, Spring e Mapinfo.

Na Brand Meio Ambiente trabalhei com ArcVIEW, ArcGIS e o ERMapper. No IBAMA, trabalhei com ArcINFO, ArcView, ArcGIS, Erdas, Envi, Banco de dados PostgreSQL/PostGIS e QGIS.

6. O que você diria sobre as potencialidades do uso de softwares livres para Geoprocessamento?

Para mim o maior potencial do software livre em Geoprocessamento (FOSS4G) é sua concepção natural com padrões abertos e sua utilização em dados abertos.

Entrevista com Luiz Motta, analista ambiental do IBAMA

Cada vez mais vemos projetos que fornecem dados abertos (livres) sendo disponibilizado em formatos abertos, oferecendo software livres para o seu manuseio, um dos exemplos é o programa Sentinel da Agência Espacial Europeia.

A adoção de FOSS4G por organismos internacionais e Governos oferece oportunidade a profissionais qualificados nessas tecnologias.

Outro potencial do FOSS4G é o aproveitamento de softwares ou bibliotecas de outras áreas, um dos exemplos de bibliotecas utilizadas em softwares livres de Geoprocessamento são, a OpenCV da computação visual e a ITK da área médica, que trazem para o Geoprocessamento novas abordagem sobre a utilização da representação do espaço.

7. Poderia nos falar um pouco sobre o projeto seu trabalho no Ibama? Como as Geotecnologias tem sido empregadas em seu dia a dia neste órgão público?

No momento, tenho trabalhado no gerenciamento de imagens de satélites, desenvolvendo o catalogo de imagens on the fly, desenvolvendo plugins do QGIS para facilitar o uso de imagens de satélite e iniciando a utilização e a colaboração com o ROAM para trabalhar com as operações de campo do Ibama.

O Ibama trabalha com Geoprocessamento a muitos anos, e o uso de tecnologia de Geoprocessamento tem sido empregadas em diversos segmentos, como exemplo, subsídios nas operações de fiscalização e nos autos de infração, nos programas de monitoramento de licenciamento ambiental, nos programas de prevenção de incêndios, nos relatórios das alterações de uso do solo nos biomas e nos sistemas de controle dos produtos florestais.

8. Você é um dos maiores colaboradores brasileiros para o desenvolvimento do QGIS, sendo criador de plugins para o programa. Poderia comentar sobre este tipo de atividade que realiza? Quais os desafios? Quais suas motivações?

A colaboração no QGIS, ou em outro projeto livre, é um constante aprendizado, fazer algo para que outras pessoas possam utilizar ou melhorar aquilo que você fez, nos força a pensar mais no trabalho, hora por ser avaliado pelos usuários, hora para que outro desenvolvedor possa entendê-lo.

Iniciei o desenvolvimento de plugins para o QGIS em 2010, e alguns fatos me surpreenderam, onde jamais poderia imaginar os resultados dessa colaboração. A colaboração mais significativa foi no plugin Openlayers, que permiti adicionar ao QGIS, servidores de mapa e/ ou imagem como camadas do projeto. Logo quando surgiu o Openlayers, eu estava participando do Programa Terra Legal, e naquele momento, foi algo inacreditável, ver os levantamentos de campo do Terra Legal nas imagens de alta resolução do Google no QGIS. Mas para isso tinha que permitir o plugin a trabalhar com PROXY da rede, e essa foi a primeira contribuição ao plugin OpenLayers, e com isso, passou a ser utilizado por todos os técnicos envolvidos no Terra Legal, e para nós, que tínhamos decidido usar software livre, foi uma decisão de sucesso.

Outra contribuição ao Openlayers foi a adição do servidor de mapas do BING, essa contribuição foi uma demanda da comunidade da OSGEO do Japão, pois no início de 2011 eles estavam trabalhando na recuperação do Tsunami, e as imagens do BING eram melhores que a do Google. Tinha conhecido a comunidade da OSGEO do Japão no FOSS4G do Japão em 2010, e ao ver as cenas do Tsunami, me ofereci a ajudá-los, mas não imaginava que realmente pudesse fazer algo por eles, entre a demanda e a atualização do plugin foram menos de 48 horas. O trabalho de Geoprocessamento que a OSGEO do Japão fez na recuperação do Tsunami foi incrível, inclusive, foi apresentado no FOSS4G da Koréia de 2011, “Response of OSGeo Japan with other communities to the Great East Japan Earthquake”. A grande surpresa foi meu nome está na apresentação, simbolizando a importância da colaboração de outras comunidades da OSGEO.

O desafio está em você mesmo em apreender ou melhorar o que você já conhece, o QGIS está ao seu alcance, ficando então o desafio de superarmos as nossas limitações em entender o que está sendo desenvolvido, e em alguns casos, nós mesmos que temos descrever ou ensinar as novidades que são criadas no QGIS.

A maior motivação em colaborar com FOSS4G é sentir útil as pessoas, no caso do Brasil, exercer o papel de servidor público a sociedade brasileira, e para os outros países, exercer o papel de um agente humanitário.

9. Gostaria de fazer algum comentário adicional sobre o tema de nossa entrevista?

Gostaria de agradecer aos blogueiros na área de Geoprocessamento, que tem ajudado as pessoas iniciarem na área de Geoprocessamento de forma tão rápida, em especial, ao Anderson, que tem colaborado tão intensivamente com essa nova forma de disseminar conhecimento.


Queremos agradecer ao Luiz Motta por nos conceder esta entrevista que certamente agregou valor ao conteúdo de nosso site, em especial nesta série de entrevistas.

O que vocês acharam desta postagem? Já conheciam o trabalho desenvolvido por esta relevante profissional da área de Geotecnologias? Deixem seus comentários.

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Anderson Medeiros

Anderson Medeiros

Graduado em Geoprocessamento pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É o autor do site https://clickgeo.com.br que publica regularmente, desde 2008, artigos dicas e tutoriais sobre Geotecnologias, suas ferramentas e aplicações.
Em 2017 foi reconhecido como o Profissional do ano no setor de Geotecnologias. Atua na área de Geoprocessamento desde 2005.

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Sobre Anderson Medeiros

Ele já foi reconhecido como o Profissional do Ano no Brasil no setor de Geotecnologias. Graduado em Geoprocessamento, trabalha com Geotecnologias desde 2005. Já ministrou dezenas de cursos de Geoprocessamento com Softwares Livres em diversas cidades, além de outros treinamentos na modalidade EaD. Desde 2008 publica conteúdo sobre Geoinformação e suas tecnologias como QGIS, PostGIS, gvSIG, i3Geo, entre outras.

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